segunda-feira, 5 de julho de 2010

Imprensa: "A Bola Não Entra Por Acaso"

Entrevista Ferran Soriano, presidente da Spanair e autor do livro “A Bola Não Entra Por Acaso”



“Para acontecerem golos são necessárias técnicas de gestão”

Soriano, ex-vice-presidente do Barça revela, em livro, as técnicas de gestão que permitiram dar nova vida ao clube catalão.


Ferran Soriano foi vice-presidente do Futebol Club Barcelona, entre 2003 e 2008, experiência que agora pode partilhar com gestores de topo explicando como os ensinamentos do futebol podem dar um contributo à gestão empresarial.
Para este gestor, licenciado em ciências empresariais e com um MBA realizado na ESADE, as lições poderão ser muitas. Desde “as tácticas dos treinadores à liderança dos capitães e à organização das equipas.” Para Soriano, que é actualmente Presidente da Spanair, a segunda maior companhia aérea espanhola, o dever de um líder é adaptar-se à equipa e não o contrário.

O que é que o futebol tem a ensinar à gestão?
Por um lado, o futebol é uma indústria como qualquer outra, só que menos estudada e analisada. Fala-se muito do que acontece no campo e muito pouco do que acontece na chamada secretaria dos grandes clubes. Vale a pena entender a estrutura da indústria e as estratégias dos actores principais. As lições servem para outras indústrias. Por outro lado, o futebol serve como metáfora da vida e dos negócios. O que acontece em campo é a mesma coisa que acontece numa empresa. Só que em campo está tudo concentrado em 90 minutos e num espaço reduzido: as tácticas dos treinadores, a liderança dos capitães, a organização das equipas. Pode-se aprender com elas e aplicá-las ao dia a dia dos nossos negócios.

Quer dar-nos um exemplo de tácticas?
A colocação dos jogadores no campo, a escolha do enfoque no ataque ou na defesa, como defender atacando e atacar defendendo, são exemplos de tácticas de futebol que se aplicam também aos negócios. A tipologia e o carácter dos jogadores que se colocam no campo em cada momento também dão lições às empresas: visionários no ataque que lideram a estratégia ou os esforços comerciais, conservadores na defesa ou nos departamentos financeiros, grandes trabalhadores nomeio campo, os que fazem as coisas acontecer, no relvado e no mundo empresarial.

As maiores lições de liderança são?
Na minha opinião, uma das grandes lições é que o líder tem que saber adaptar o seu estilo de liderança à equipa que tem, e não o contrário. Muitas vezes, quando pensamos em líderes, imaginamos pessoas carismáticas, de forte personalidade, a quem os outros seguem. Mas os melhores líderes, os que mantêm a liderança por períodos longos, são aqueles capazes de compreender qual é o estilo de liderança de que o grupo precisa. São os líderes que têm que entender o grau de empenho do grupo e o valor do seu talento. E têm que se adaptar com estilos de liderança mais centralizadores, de delegação ou de ‘coaching’. Parecem-me também muito interessantes as ideias de como organizar e manter uma equipa ganhadora. A fórmula do compromisso vezes equilíbrio elevado ao talento funciona no futebol, mas funciona também em qualquer outro negócio. Para se ter sucesso é necessário ter uma equipa empenhada, que trabalha não só pelo seu salário, equilibrada no sentido em que cada um sabe e aceita o que deve fazer para o bem colectivo. E que usa o melhor do seu talento.

Como se pode inovar de forma prática e eficiente?
A inovação começa sempre no consumidor, no cliente, na observação de atitudes e preferências, muitas vezes sem perguntar. Inovar não é inventar novos produtos e tecnologias, é tão só descobrir novas necessidades dos consumidores, que existem, mas que eles não sabem ainda expressar. Esta inovação pode ser feita em qualquer lugar do mundo, basta uma atitude corajosa e criatividade.

O que pensa do treinador português José Mourinho?
Mourinho já é um dos grandes treinadores da história do futebol. O que ele conseguiu com o Porto, o Chelsea e o Inter é impressionante. Merece grande respeito e admiração. Se tivesse que pensar num desafio para ele, colocar-lhe-ia o de ficar por um longo período de tempo num clube e adaptar o seu estilo de liderança às necessidades de mudança da equipa. Isto é, fazer a equipa adaptar-se ao estilo dele.

Mafalda Avelar, Ideias em Estante, Diário Económico, Junho 2010

Sem comentários: