quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Imprensa:

«Saber Ganhar

Se o tempo é de crise económica e financeira, saibamos interpretar melhor as ideias de empresários que simbolizam parte do sonho americano. Como Donald Trump: «A única maneira de enriquecer é ser-se realista.»

Donald Trump poderia ser um personagem de Tom Wolfe em A Fogueira das Vaidades. Representa, e muito, a geração de empresários e financeiros que cresceu na onda das políticas económicas de Ronald Reagan, que foi abalroado pela crise financeira de final da década de 1980, que viveu no mundo das festas e das celebridades, que casou três vezes (com Ivana, depois com Marla Maples e ainda com a modelo Melania Knauss), que esteve à beira da falência (devia 900 milhões de dólares – cerca de 700 milhões de euros actuais – em 1990) e que renasceu das cinzas (a sua fortuna era, outra vez, de mil milhões de dólares em 2000 – 780 milhões de euros). O seu sonho é simples: «Não faço negócios por causa do dinheiro. Tenho o suficiente, muito mais do que precisarei. Faço por fazer.» Nas presidenciais norte-americanas de Novembro apoiou John McCain, o que tem a ver com opções ideológicas. A sua vida foi feita de riscos: o rei do imobiliário de Nova Iorque (onde construiu a Torre Trump, em 1982), antes de ter deslocado as suas atenções para Las Vegas ou de criar o seu hotel no Dubai, teve de subir a pulso na vida.
Trump é o empresário típico do sonho americano, marinado pela cultura do laissez faire. Em 2004, tornou-se a estrela de um programa de televisão na NBC, The Apprentice (O Aprendiz), onde aos concorrentes que falhavam dizia apenas: «Está despedido!» A frase relaciona-se bastante com este Pense em Grande, livro onde Trump, que detesta apertos de mão, explica como se pode ser o melhor nos negócios. «Para ser bem sucedido, terá de se afastar dos restantes 98 por cento da população do mundo.» A receita é: «Primeiro, deve ser honesto consigo mesmo. A única maneira de enriquecer é ser-se realista e brutalmente honesto.» Mas não só: «Para ser bem-sucedido na vida, é fundamental que ame a sua profissão, seja ela qual for.» Não se deve basear no senso comum, mas nos seus instintos, deve sonhar, porque o sonho é a meta, e deve pensar no dinheiro que quer ter no prazo de cinco anos. Simples? Parece. Trump recorda neste livro que o seu programa de televisão substituiu Friends, série de Jennifer Aniston. O modelo de negociação com a NBC baseou-se no valor que cada um dos actores desta série recebia (perto de 1,5 milhões de euros – dois milhões de dólares – por episódio). Os directores pensaram que Trump queria esse montante por programa. «Não estão a perceber! Eles são seis e eu sou só um, portanto, quero 12 milhões por episódio», recorda. «Funcionou porque arrisquei. Confie nos seus instintos. Arrisque», reforça.
Neste período de crise económica e financeira, personalidades como Donald Trump podem aparecer menos simpáticas. Afinal o seu jogo com o dinheira e com as pessoas que estão à volta faz-se, em grande parte, a partir do equilíbrio entre a vontade de ganhar e as receitas. O valor fundamental é o dinheiro. «Pensar grande conduziu a todas as grandes conquistas da humanidade», refere no final do livro, antes de responder a uma série de perguntas frequentas. Pense em Grande é uma forma de se perceber melhor o que vai na cabeça de homens que simbolizam parte do sonho americano
Fernando Sobral, Revista LER