sexta-feira, 11 de março de 2011

Imprensa: Entrevista Álex Rovira

«O lado bom das coisas

“Uma crise é uma mudança inesperada e que obriga a redefinir os valores e a maneira de entender o mundo.” Quem o diz é Álex Rovira, o conhecido autor e conferencista espanhol, que publicou recentemente em Portugal dois livros, um deles chamado Uma Boa Crise. Quem o lê ou o ouve falar nota-lhe facilmente uma especial capacidade para ver o lado bom das coisas.

Aproveito o título de um dos dois livros que publicou recentemente em Portugal para lhe perguntar: o que é que uma crise pode ter de bom?
Pode ser boa, mas mais, pode ser uma ruptura. Não é uma desgraça, uma perda definitiva, como a morte de alguém. Confunde-se crise com desgraça. Uma crise é uma mudança quase sempre inesperada, obriga a redefinir os valores, a maneira de entender o mundo, as crenças e as atitudes. Neste sentido pode ser boa, harmoniza-nos, torna-nos mais humanos, faz cada um de nós ser mais pessoa.
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Numa crise financeira global como a de agora, o que é que vê de positivo?
Comprámos com dinheiro que não tínhamos coisas de que não necessitávamos para impressionar quem não conhecíamos ou não nos caíam bem, e assim ficámos com activos que não valem o que custaram. Tudo uma mentira. Inteligência sem amor é especulação, e o problema que temos hoje é de pura especulação, porque poucos quiseram tirar e ficaram com o dinheiro de muitos, e no fim paga a boa gente. A crise é boa se servir para regular, evitar a indecência, a falta de moralidade, a avareza e a estupidez.
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Desde os seus primeiros livros que os leitores se habituaram a que veja o lado bom das coisas. Como desenvolveu essa capacidade?
Desenvolvi-a porque na minha vida sofri muito. Numa situação dessas uma pessoa ou mata-se ou tenta encontrar um sentido para a vida, para seguir e converter esse sofrimento em amor e criatividade para com os que a rodeiam.
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Como vê o mundo das empresas, onde milhões de pessoas passam boa parte do tempo das suas vidas?
Há de tudo, empresas com critérios de gestão fantásticos, humanas, que sabem que têmde ganhar dinheiro mas tentam que os empregados se realizem. E há empresas perversas, psicopáticas, que maltratam, manipulam e mentem. Mas há uma evolução. Há muita gente a viver numa jaula de ouro... De que me serve ganhar a vida se estou a perdê-la? Muita gente faz esta pergunta.
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Os seus livros já mudaram a vida de muita gente...
Tenho mais de 30 mil cartas e e-mailes de leitores, com histórias de mudança de vida. Emociono-me muito. Vejo isso com muita gratidão e perplexidade. Se um dia perdesse esta emoção haveria de converter-me num cretino. Mas como me psicanaliso e não deixo de analisar-me, acredito que isto é a vacina para evitar a estupidez e chegar ao êxito.

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Human, Fevereiro de 2011

Obras do autor editadas pela Gestãoplus: