quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Crítica:

«As batalhas do xadrez

Há muitas formas de se chegar a um xeque-mate. E o artigo campeão do mundo Garry Kasparov parte desse pressuposto para defender o xadrez como “um laboratório ideal para o processo de uma tomada de decisões”.

O xadrez sempre foi uma forma de simular as confrontações políticas e militares, com todas as suas aberturas e tácticas, mas onde o fim é sempre o xeque-mate. Ou seja, a vitória. Conseguimos imaginar diplomatas, generais ou CEO defronte de um tabuleiro, tentando ganhar batalhas ou, simplesmente, a ocupar o mercado. Não admira que homens como Karl Marx ou Trotsky fossem apaixonados pelo xadrez. Talvez por isso Garry Kasparov insinue que “a vida imita o xadrez”, como se ela fosse um reflexo de uma arte superior, a que joga com os desejos e as acções dos homens. Em que os homens são peões do rei xadrez. Kasparov sabe do que fala. Nascido em Bacu, no Azerbaijão, em 1963, foi o último campeão mundial do xadrez do regime soviético e o primeiro do mundo pós-sovietico. Soube, como poucos, como o xadrez fez parte do universo político da então URSS. E, até por isso, este A Vida Imita o Xadrez é deslumbrante.
Kasparov refere que este jogo pode ensinar-nos a tomar melhores decisões e assim permitir-nos ter mais sucesso. “O que é que torna o xadrez um laboratório ideal para o processo da tomada de decisões? Jogar xadrez a alto nível requer um fluxo constante de decisões precisas e ponderadas, tomadas em tempo real e debaixo da pressão do nosso adversário. Além disso, requer a síntese de algumas virtudes bastante distintas, todas elas necessárias a uma boa decisão: o cálculo, a criatividade e o desejo de obter bons resultados.” Em sua defesa cita um artigo campeão mundial, Emanuel Lasker, que dizia que “o xadrez é, acima de tudo, uma luta”. Com um outro condicionalismo: o científico, ou seja, “aquele que tende a ser enfatizado por quem não joga xadrez: a memorização, o cálculo preciso e a aplicação da lógica. São a base do xadrez, e também do processo de tomada de decisões”. A vitória estratégica deriva disso. E a economia pode beber aqui muitas ideias.
A divisão do livro em três secções (as capacidades essenciais, a avaliação e a análise, e a forma como todas elas podem ser combinadas) oferece-nos interessantes motivos de reflexão sobre decisões tácticas e estratégicas que se têm de tomar. “Cada jogada tem uma consequência; ou se encaixa na nossa estratégia ou não. Se não questionarmos as nossas jogadas constantemente, somos derrotados pelos jogadores que estejam a seguir um plano coerente.” Por isso, Kasparov acrescenta que “a chave para criar estratégias de sucesso é estar consciente dos seus pontos fortes e das suas fraquezas, saber aquilo em que é bom. Dois bons jogadores de xadrez podem usar estratégias muito diferentes para o mesmo cenário, que poderão ser igualmente eficazes – deixando de lado aquelas posições em que está disponível uma única e obrigatória linha de vitória. Cada jogador tem o seu estilo próprio, a sua forma de resolver problemas e de tomar decisões”. O xadrez é um mapa estratégico para vencer no mercado. Ao ler este livro percebe-se porquê.»
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Revista LER, Janeiro de 2009
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